quarta-feira, 21 de junho de 2017

PARÁBOLAS MIRABOLANTES



As pregações de Frei Mané Mago de Jurema


Faço arte pela arte /Sem cansar minha beleza
Assim quando eu vejo porcos/ Lanço logo as minhas pérolas
(Tocando por música - Belchior-Jorge Mello)

Frei Mané Mago de Jurema peregrinava pelo deserto das ideias, depois de enfrentar a aridez dos sem noção e a fúria inclemente dos raivosos que se julgam donos da verdade. Sentindo-se profundamente exausto daquela lenga-lenga, sentou-se debaixo de um pé de catingueira para descansar.
Um discípulo que o seguia perguntou:
— Mestre, é possível um COXINHA teimoso, obstinado e renitente se arrepender de suas asneiras? É possível um batedor de panelas se redimir?
E o Mestre, depois de refletir um instante, sorveu um grande gole de conhaque de alcatrão São João da Barra, tirou o gosto com uma siriguela, pigarreou para retemperar a garganta, e respondeu deste modo:
— Sim, amado discípulo, tudo neste mundo é possível... E lembrando-se do Chicó, de ‘O Auto da Compadecida’, arrematou: — Cavalo bento, cachorro bento, tudo isso eu já vi!
— Como? — Perguntou João Mandioca, o discípulo que o admoestara. E Frei Mané Mago esclareceu:
— Assim como é possível um macaco entrar numa casa de louças e não quebrar nada; Assim como é plausível uma vaca dormir numa cama forrada com bolacha cream-crack e não quebrar nenhuma; Um jumento atravessar o Atlântico a nado e um boi ladrão ir à Rússia de asa-delta, também é possível um renitente Coxinha se arrepender. Olhai os insetos do campo (grilo, mané-mago e até mesmo o pássaro cancão)... Eles não fiam e nem cosem (fiam-se na inteligência), não fedem e nem cheiram (para não atraírem os predadores), nem nadam e nem se afogam (nem carne, nem peixe), no entanto nem o Rei Salomão, em sua suprema glória e sabedoria,  foi considerado tão “sábio” quanto eles!


* * *


Os discípulos se entreolharam sem nada entender e começaram a murmurar entre si. Mestre Mané Mago, que pretendia dormir o sono dos justos na sua rede de tucum, esclareceu deste modo:
— Em verdade, em verdade vos digo... Se Jesus Cristo encontrasse um bando de COXINHAS certamente diria: — Vós sois a infelicidade e a desgraça deste país! A suprema vergonha desta nação! Raça de víboras, sepulcros caiados, fariseus hipócritas! Vós que enxergais um cisco no olho do PT, mas não enxergais a trave no próprio olho. Vós que clamais por moralidade, mas que acobertais a roubalheira desenfreada dos demais partidos. Vós que fingis clamar por Justiça, mas que vos curvais quietos perante as injustiças do Supremo. É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um COXINHA penetrar no Reino da Verdade. Coxinha que desgraça o país merece ser lançado nas caldeiras do inferno, onde haverá choro e ranger de dentes!
E depois de enxugar o suor que corria copioso pelas faces, num velho lenço de mandapulão, Frei Mané Mago de Jurema concluiu a sua pregação desse modo:
— Insensatos! O Lula tentou agasalhar essa mundiça como uma galinha tenta agasalhar os seus pintinhos e o que foi que eles disseram diante do Pilatos de Curitiba, que o vergastava impiedosamente? — Crucifica-o! — Crucifica-o!
Pedro Carocha, filho de Zefa Gamela, um dos discípulos mais inteligentes, compreendendo a pregação de Frei Mané Mago de Jurema, concluiu deste modo:
— É por isso que mesmo conscientes do mal que praticaram, teimam mais que a mulher do piolho, em vez de darem o braço a torcer e se tornarem cordatos e fiéis, tal e qual a Madalena Arrependida.
Frei Mané Mago, que não queria esticar a baladeira, conformou-se em dizer:
— Meus amados, o GIGANTE está na rede... Cada vez mais globalizado. Aliás, na rede não, está nas redes. Abandonou o berço esplêndido e deitou-se nas redes sociais, onde vive a bocejar e praguejar sem nada resolver. De que vale ser gigante, se as forças do mal estão deitando abaixo o seu pé de feijão?

Ao escutar a terrível sentença proferida pelo misterioso asceta, a galinha dos ovos de ouro, riqueza maior do gigante adormecido, caiu do poleiro, deu dois suspiros e depois... morreu!


Prédica anotada por

Frei Cancão de Fogo


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