quinta-feira, 29 de junho de 2017

#PARTIUCEGOADERALDO

Ilustração: JÔ OLIVEIRA


Aderaldo Ferreira de Araújo
(* 24 de junho de 1878 + 29 de junho de 1967)
Ilustração: Jô Oliveira


Hoje, 29 de julho, completam 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Citado pelos cantadores com um dos pilares da trindade mítica do Nordeste, aparece nesse mote de sete sílabas:

“SÃO TRÊS VULTOS QUE SEMPRE ADMIREI
PADIM CIÇO, ADERALDO E LAMPIÃO”




HÁ CINQUENTA ANOS FALECIA EM FORTALEZA O FAMOSO CEGO ADERALDO, O MAIOR CANTADOR DE TODOS OS TEMPOS

Texto de Alberto Porfírio


No dia 30 de junho de 1967, o dia amanheceu nas ruas de Fortaleza com os jornais trazendo a seguinte manchete:

“MORREU O CEGO ADERALDO, O MAIOR CANTADOR DE TODOS OS TEMPOS”

Essa homenagem que tanto enaltece aquele poeta, causou celeuma nas reuniões de cantadores de todo o Nordeste brasileiro.

Eram poucos os profissionais da viola que não se mostraram contrários ao que, naquele dia, publicaram os jornais do Ceará em relação ao famoso cego cantador desaparecido. Eles achavam que isso não estava certo. Que o Cego Aderaldo não era merecedor daquela homenagem, quando existiam um Severino Pinto e outros, como os irmãos Batista Patriota e muitos que, como o Aderaldo, já haviam desaparecido e eram, também, estrelas de primeira grandeza.

Eu, por minha parte, não sei se com isso o povo do Ceará fez ou não justiça para com o célebre menestrel cearense.

Também quando foi morto em Sergipe, em 1938, o famigerado bandoleiro Virgulino Ferreira, semelhante manchete inundou toda a imprensa brasileira. O título de maior cangaceiro de todos os tempos, não queria dizer que o Lampião fosse invulnerável. E que nunca se tenha amofinado e corrido para se defender dos ataques e tiroteios de policiais de vários estados que o perseguiam.

O Cego Aderaldo eu conheci. E muito de perto. Tenho a honra de dizer que o acompanhei nos anos de seu apogeu como cantador e poeta.

(...)

Em 1933, quando vinha da romaria que fazia anualmente a Canindé, em Itapiúna, na Pensão da Quixabeira, encontrou-se com Ignácio Leite, cantador potiguar que o esperava. O próprio Aderaldo depois nos relatou:

“Encontrei um peso!... Vi-me em dificuldades ante aquele adversário que me esperava prevenido. Mas - dizia ele – falo sem exagero. Contei com oitenta por cento das palmas (aplausos) e saí como vencedor, quando eu não era melhor cantador do que ele!... Por que isso?”



E continuava:

“Geralmente o bom repentista é somente isso. E, sem que tenha boa voz e saiba fazer a entonação no instrumento que toca, o cantador nunca poderá agradar convenientemente ao seu público ouvinte.”

O cego tinha razão em seu argumento. Conhecemos grandes repentistas que não sabem tocar. E que usam o instrumento apenas para lhe estimular a verve poética. E dá-se que, em meio a calorosos debates, humilham-se diante do seu opositor pedindo-lhe para que a afine a viola.

O Cego Aderaldo quando moço, tinha uma voz forte e agradável e ainda tocava, regularmente, todos os instrumentos mais comuns em sua época. Aliás, a mais de duas dúzias de filhos adotivos ele ensinou a tocar desde o violino, instrumento em que se iniciara, passando por todos os instrumentos de cordas, até o clarinete, instrumento de sopro.

O gramofone com o seu disco, assim como o cinema, embora mudo, ele apresentava aos matutos. Sem falar da Literatura de Cordel, que era também vendida por ele aos sertanejos cooperando no aprendizado da leitura. Assim era o Aderaldo, uma espécie de missionário, pelo que lhe são merecidas todas as homenagens.

(...)



É, por exemplo, do cantador João Firmino, também cego, o seguinte martelo que conseguimos colher em Brasília, junto a amigos e conterrâneos que assistiram ao enterro do Cego Aderaldo no Cemitério São João Batista (no dia 30 de junho de 1967):


“Foi a forte aroeira que ruiu
A contato do gume do machado.
Foi o ferro melhor já fabricado
Que o mercado do mundo jamais viu;
Foi  o trem, sem destino, que partiu,
E ao longo da estrada deu o prego;
Como Homero, também, ele era cego
A quem todo o seu povo admirava...
Para ser o próprio Homero só faltava
Ao invés de cearense ser um grego!”


O Cego Aderaldo foi um ‘assum preto’. O destino lhe furara os olhos para ouvi-lo cantar melhor e deleitar, por alguns tempos, os moradores desse Nordeste moído que se alimenta de cantos, sonhos e esperanças!

(...)



In Alberto Porfírio -  “Poetas Populares e Cantadores do Ceará”, editora Horizonte, Brasília, 1978.



Biografia do Cego Aderaldo escrita por Cláudio Portela.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

CINQUENTENÁRIO DO POETA


Selo comemorativo criado por Jô Oliveira

II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO COMEMORA CINQUENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE ARIEVALDO VIANNA

N
ascido aos 18 de setembro de 1967, na fazenda Ouro Preto, município de Madalena (Sertão Central do Ceará), o escritor Arievaldo Vianna completa este ano 50 anos de idade, 40 dos quais dedicados à poesia e ao desenho. A data será lembrada na II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO, que acontecerá de 17 a 20 de agosto na CAIXA CULTURAL de Fortaleza.



ARIEVALDO foi criado à luz de lamparina, em contato permanente com as cacimbas dos saberes do povo Nordestino. Alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel, teve como referências o seu pai, Evaldo Lima e sua avó, Alzira de Sousa Lima, que liam folhetos de cordel em voz alta para ele e outras crianças da família.
Estreou na imprensa em 1982 no Jornal de Canindé e logo em seguida passou a publicar os seus trabalhos no Caderno de Domingo do jornal O POVO, de Fortaleza. Em 1986 lançou, em parceria com o poeta Gonzaga Vieira, um álbum mesclando HQ e Cordel intitulado “Canindé – Cidade da Fé”, do qual foi feita uma tiragem de 10 mil exemplares, esgotados em menos de dois anos.
Durante a década de 1980 escreveu vários folhetos, alguns em parceria com Gonzaga Vieira, Pedro Paulo Paulino, Jota Batista e Sílvio Roberto Santos. Colaborou em diversos jornais e criou, juntamente com seu irmão Klévisson Vianna e outros colaboradores um fanzine chamado “Tramela”, que circulou por mais de dois anos.

No final da década de 1990 lançou uma caixinha de folhetos intitulada Coleção Cancão de Fogo, sucesso imediato de vendas e de crítica, verdadeiro ponto de partida para o renascimento desse gênero poético, que estava ameçado com o fechamento das grandes editoras de cordel. De lá para cá são dezenas de livros, de temática diversa, e mais de 100 folhetos de cordel já publicados. Atua também como xilogravador, chargista e ilustrador. Atuou como redator e consultor do programa “Salto para o futuro”, da TV Escola, numa série sobre Literatura de Cordel. Participou, ao lado de Dominguinhos, Assis Ângelo e Sinval Sá, de um documentário da TV Câmara de Brasília, sobre o Centenário de Luiz Gonzaga.

É criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, lançado pioneiramente em Canindé, que utiliza a poesia popular como ferramenta paradidática. Tem percorrido diversos estados brasileiros (quase todos do Nordeste, além de Tocantins, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul), onde vem realizando palestras, oficinas e recitais para estudantes, educadores e amantes da poesia popular nordestina. Foi eleito em 2000 para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o poeta João Melchíades Ferreira (1869 – 1933), um dos pioneiros desse gênero, ex-combatente da Guerra de Canudos, personagem do romance A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e autor do célebre romance O valente Zé Garcia, considerado por Câmara Cascudo a mais autêntica descrição do modo de vida do povo nordestino no século XIX. Em 2002 conquistou o premio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel. Teve seu trabalho citado em publicações da Europa, como as revistas Quadrant e Latitudes, da França. Foi redator e consultor de uma série de programas sobre Literatura de Cordel exibida pela TV ESCOLA (Programa Salto para o futuro)
É autor de mais de 100 folhetos de cordel e tem em cerca de 20 livros publicados, alguns dos quais adotados pelo MEC através do PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar).

* * *



ARIEVALDO VIANNA já escreveu e publicou cerca de 130 folhetos de cordel e lançou os seguintes livros:

- Canindé – da lenda à realidade – HQ em cordel, Edição do autor, 1986
- O Baú da Gaiatice – Editora Varal, 1999; (A terceira edição saiu em 2012, pela Editora Assaré, com tiragem de 3 mil exemplares).
- São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel – Edições Livro Técnico, 2002;
- A moça que namorou com o bode, HQ em parceria com Klévisson Viana, prêmio HQ-MIX - 2003;
- Acorda Cordel na Sala de Aula – 2005 – Editoras Tupynanquim e Queima-Bucha, (a segunda edição, com 5 mil exemplares, saiu em 2010);
- O Pavão Misterioso (Infanto-Juvenil, parceria com JÔ OLIVEIRA) – Editora IMEPH, 2006;
- A Raposa e o Cancão – (PNBE 2007 – Editora IMEPH) do qual já foram feitas várias edições;
- O Bicho Folharal – (Editora IMEPH, 2007)
- A ambição de Macbeth e a maldade feminina – Ilustrado por JÔ OLIVEIRA - (PNBE 2009 - Ed. CORTEZ),
- Padre Cícero, o santo do povo (Ed. Demócrito Rocha, presente no catálogo da Feira de livros infanto-juvenis de Bologna-Itália, 2009;
- Dona Baratinha e seu casório atrapalhado – Projeto Viva Leitura, Edições Demócrito Rocha - 2009;
- João de Calais e sua amada Constança – Editora FTD – 2010, selecionado para o PNBE 2012.
- Luiz Gonzaga, o Embaixador do Sertão – Editora Iris, 2011
- Chapeuzinho Vermelho em Cordel – Editora Globo – 2011.
- O Coelho e o Jabuti – Editora Globo – 2011.
- Lendas do Folclore Brasileiro – Edição especial feita pelo CORREIOS, 2011.
- O jumento Melindroso desafiando a ciência – 2012 – Editora Prêmius (texto e ilustrações do autor).
- O Rei do Baião – Do Nordeste para o Mundo – Editora Planeta Jovem, 2012.
- João Bocó e o Ganso de Ouro – Editora Globo, 2012
- João Grilo e Cancão de Fogo tecendo a roupa nova do imperador – Franco Editora, 2012
- O soldadinho de chumbo e a bailarina dourada em cordel - Franco Editora, 2012
- O tronco do ipê – adaptação do romance de José de Alencar para o cordel – Editora Armazém da Cultura, 2012
- O crime das três maçãs – Armazém da Cultura, 2012.
- O beabá do Sertão na voz de Gonzagão, parceria com Arlene Holanda (Editora Armazém da Cultura), 2013.
- CERVANTES EM CORDEL – Quatro Novelas Exemplares, parceria com Stélio Torquato, pela editora Folia de Letras, 2014.
- OTHELO, O MOURO DE VENEZA – Editora Pallas, 2014
- SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – Editora Manole, 2014
- ENCONTRO COM A CONSCIÊNCIA – Editora IMEPH, 2014.
- LEANDRO GOMES DE BARROS – VIDA E OBRA – Edições Fundação Sintaf/Queima-Bucha
- LUZIA HOMEM (Coleção Clássicos Cearenses Recontados em Cordel) – 2014.
- SERTÃO EM DESENCANTO – I VOLUME DE MEMÓRIAS – 2016
- SANTANINHA – UM POETA POPULAR NA CAPITAL DO IMPÉRIO -  Ed. IMEPH, 2017. (Parceria com Stélio Torquato Lima)

PROJETOS COLETIVOS:

Cantos de Luz – Livro em parceria com Mestre Azulão, José Costa Leite e Manoel Monteiro – 2004.
Antologia do Cordel Brasileiro – Editora Global, 2012 - organizada por Marco Haurélio. Texto incluso: “O rico ganancioso e o pobre abestalhado”
Vozes do Sertão – Organizado por Lenice Gomes, editora Cortez, 2014. Texto incluso: “O homem que queria enganar a morte”.
Cordéis Gonzagueanos – Editora IMEPH, org. Wilson Seraine

OBRAS INÉDITAS:

- Leandro Gomes de Barros – Antologia comentada
- O besouro e outras histórias (contos)
- O Livro das Crônicas – II Volume de Memórias
- A mala da cobra – Almanaque Matuto (em prosa e verso)
- O Afilhado da Virgem ou a Sina do Enforcado
- O preço da ambição (cordel baseado num conto de Eça de Queirós)
- Carmélia e Sebastião ou A Justiça Divina (Em parceria com Evaristo Geraldo)
- João e Maria – Uma versão nordestina
- O sonho do Imperador Carlos Magno

- Artimanhas de João Grilo – Ilustrado por Jô Oliveira.





II FEIRA DO CORDEL CORDEL BRASILEIRO
De 17 a 20 de agosto, na CAIXA CULTURAL Fortaleza

Homenageados:
Cego Aderaldo – 50 anos de morte
Aderaldo Ferreira de Araújo
(* 24 de junho de 1878 + 29 de junho de 1967)

No dia 29 de julho de 2017, completaram-se 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Nascido no Crato, veio morar muito jovem na cidade de Quixadá, depois de ficar órfão de pai, empregando-se na estrada de ferro. Cegou aos 18 anos. Trabalhava abastecendo uma caldeira, quando tomou um copo de água fria e os olhos estalaram imediatamente, fazendo com que perdesse a visão pelo resto da vida. Comprou então seu primeiro instrumento e descobriu que sabia fazer versos. Achava humilhante ter que pedir esmolas por isso exerceu diversas profissões: além de cantador foi comerciante e exibia filmes, num cinematógrafo que lhe fora presenteado por Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo.


Gonçalo Ferreira e Marcus Lucenna também estarão nesse evento

Gonçalo Ferreira – 80 anos

Cearense da cidade de Ipu, o poeta, contista e ensaísta Gonçalo Ferreira da Silva nasceu no dia 20 de dezembro de 1937. Aos quatorze anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1963, publicou, pela Editora da Revista Rural Fluminense, o primeiro livro: Um resto de razão, coletânea de contos regionais do Nordeste. Em 1978 iniciou a sua produção de literatura de cordel, quando, ao realizar estudos sobre cultura popular, na Fundação Casa de Rui Barbosa, conheceu o pesquisador Sebastião Nunes Batista e, em companhia dele, passou a freqüentar a Feira de São Cristóvão. Muito exigente com a forma, tem estrofes primorosas em seus mais de 200 trabalhos já publicados. Também escreveu livros em prosa, um deles uma biografia romanceada do cangaceiro Lampião.
É fundador e atual presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, situada no bairro de Santa Tereza.


Arievaldo Vianna – 50 anos
Arievaldo Vianna Lima – 18 de setembro de 1967

(VER BIOGRAFIA NO INÍCIO DA MATÉRIA)

Mestre Bule-Bule – 70 anos
Antônio Ribeiro da Conceição, 22 de outubro de 1947

Um dos mestres da cultura popular nordestina mais renomados do Brasil. Antônio Ribeiro da Conceição, nome artístico Bule-Bule, nascido em 22 de outubro de 1947, na Cidade de Antônio Cardoso no Estado da Bahia, vem de uma região onde as influências culturais do sertão e do recôncavo baiano se misturam e contribuíram decisivamente para o arcabouço artístico deste grande poeta. Esta figura emblemática da cultura popular, também é um excelente cordelista, com mais de 100 títulos publicados, um exímio sambador e tiraneiro, e um forrozeiro de grande valor, tendo todas estas virtudes comprovadas em seus oito discos e dois DVDs gravados em mais de 45 anos de carreira.
Ao longo da sua trajetória Bule-Bule fez shows e concedeu palestras nos quatro cantos deste Brasil e do mundo. Já dividiu o palco com figuras renomadas como Gilberto Gil, Beth Carvalho, Gabriel o Pensador e Tom Zé, ou em apresentações nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha e em Portugal. Em 2008 Bule Bule foi condecorado com a maior premiação brasileira para a Cultura, a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.



Zé Maria de Fortaleza – 60 anos de viola
José Maria do Nascimento, 7 de agosto de 1945

Zé Maria de Fortaleza é o nome artístico de José Maria do Nascimento, nascido em Aracoiaba-CE, em 7 de agosto de 1945. É cantador, repentista, músico, ator e cordelista. Membro da Academia Brasileira da Literatura de Cordel (ABLC), cadeira nº 24, que tem como patrono o poeta Francisco Sales Areda. Vice-presidente da Academia Brasileira de Cordel (ABC), filiado à Ordem dos Músicos do Brasil, à União dos Compositores Cearenses (UCC), à Associação dos Cantadores do Nordeste (ACN), à Sociedade dos Amigos da Arte (SOAMA), e vice-presidente da Associação de Escritores Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (AESTROFE). Cursou Teoria Musical no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno; recebeu certificado dos cursos Influência afro na cultura brasileira e História da música popular brasileira.


Vem há muitos anos ministrando cursos, palestras e oficinas sobre a literatura de cordel, em vários estados brasileiros. Tem dezenas de cordéis publicados e 3 livros: Gramática em cordel (Editora IMEPH), A lenda do vaga-lume (Escala Educacional – SP), Fragmentos da literatura popular cearense, em parceria com Dr. Antônio Ferreira. Zé Maria tem ainda 10 CDs gravados e 3 DVDs. Apresenta semanalmente o programa Canta Brasil, na Rádio Cidade-AM, 860, em Fortaleza-CE.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

ANTOLOGIA DE GONZAGÃO

Wilson Seraine e Jô Oliveira

CORDÉIS GONZAGUEANOS


Editora Imeph lança com sucesso o livro CORDÉIS GONZAGUEANOS, antologia organizada pelo professor Wilson Seraine, na Feira do Livro de Brasília. Além do autor, estiveram presentes o ilustrador Jô Oliveira e o artista Chambinho do Acordeón. Dentre os cordéis selecionados nessa antologia, há três folhetos de autoria de Arievaldo Vianna. Na opinião do prefaciador da obra, poeta Gonçalo Ferreira, um dos folhetos de Arievaldo é o que melhor resume a saga de Gonzagão por tratar os fatos por ordem cronológica, desde o seu nascimento até sua morte em agosto de 1989.



 Ex-Ministro Aldo Rebelo, entusiasta da cultura nordestina

quarta-feira, 21 de junho de 2017

PARÁBOLAS MIRABOLANTES



As pregações de Frei Mané Mago de Jurema


Faço arte pela arte /Sem cansar minha beleza
Assim quando eu vejo porcos/ Lanço logo as minhas pérolas
(Tocando por música - Belchior-Jorge Mello)

Frei Mané Mago de Jurema peregrinava pelo deserto das ideias, depois de enfrentar a aridez dos sem noção e a fúria inclemente dos raivosos que se julgam donos da verdade. Sentindo-se profundamente exausto daquela lenga-lenga, sentou-se debaixo de um pé de catingueira para descansar.
Um discípulo que o seguia perguntou:
— Mestre, é possível um COXINHA teimoso, obstinado e renitente se arrepender de suas asneiras? É possível um batedor de panelas se redimir?
E o Mestre, depois de refletir um instante, sorveu um grande gole de conhaque de alcatrão São João da Barra, tirou o gosto com uma siriguela, pigarreou para retemperar a garganta, e respondeu deste modo:
— Sim, amado discípulo, tudo neste mundo é possível... E lembrando-se do Chicó, de ‘O Auto da Compadecida’, arrematou: — Cavalo bento, cachorro bento, tudo isso eu já vi!
— Como? — Perguntou João Mandioca, o discípulo que o admoestara. E Frei Mané Mago esclareceu:
— Assim como é possível um macaco entrar numa casa de louças e não quebrar nada; Assim como é plausível uma vaca dormir numa cama forrada com bolacha cream-crack e não quebrar nenhuma; Um jumento atravessar o Atlântico a nado e um boi ladrão ir à Rússia de asa-delta, também é possível um renitente Coxinha se arrepender. Olhai os insetos do campo (grilo, mané-mago e até mesmo o pássaro cancão)... Eles não fiam e nem cosem (fiam-se na inteligência), não fedem e nem cheiram (para não atraírem os predadores), nem nadam e nem se afogam (nem carne, nem peixe), no entanto nem o Rei Salomão, em sua suprema glória e sabedoria,  foi considerado tão “sábio” quanto eles!


* * *


Os discípulos se entreolharam sem nada entender e começaram a murmurar entre si. Mestre Mané Mago, que pretendia dormir o sono dos justos na sua rede de tucum, esclareceu deste modo:
— Em verdade, em verdade vos digo... Se Jesus Cristo encontrasse um bando de COXINHAS certamente diria: — Vós sois a infelicidade e a desgraça deste país! A suprema vergonha desta nação! Raça de víboras, sepulcros caiados, fariseus hipócritas! Vós que enxergais um cisco no olho do PT, mas não enxergais a trave no próprio olho. Vós que clamais por moralidade, mas que acobertais a roubalheira desenfreada dos demais partidos. Vós que fingis clamar por Justiça, mas que vos curvais quietos perante as injustiças do Supremo. É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um COXINHA penetrar no Reino da Verdade. Coxinha que desgraça o país merece ser lançado nas caldeiras do inferno, onde haverá choro e ranger de dentes!
E depois de enxugar o suor que corria copioso pelas faces, num velho lenço de mandapulão, Frei Mané Mago de Jurema concluiu a sua pregação desse modo:
— Insensatos! O Lula tentou agasalhar essa mundiça como uma galinha tenta agasalhar os seus pintinhos e o que foi que eles disseram diante do Pilatos de Curitiba, que o vergastava impiedosamente? — Crucifica-o! — Crucifica-o!
Pedro Carocha, filho de Zefa Gamela, um dos discípulos mais inteligentes, compreendendo a pregação de Frei Mané Mago de Jurema, concluiu deste modo:
— É por isso que mesmo conscientes do mal que praticaram, teimam mais que a mulher do piolho, em vez de darem o braço a torcer e se tornarem cordatos e fiéis, tal e qual a Madalena Arrependida.
Frei Mané Mago, que não queria esticar a baladeira, conformou-se em dizer:
— Meus amados, o GIGANTE está na rede... Cada vez mais globalizado. Aliás, na rede não, está nas redes. Abandonou o berço esplêndido e deitou-se nas redes sociais, onde vive a bocejar e praguejar sem nada resolver. De que vale ser gigante, se as forças do mal estão deitando abaixo o seu pé de feijão?

Ao escutar a terrível sentença proferida pelo misterioso asceta, a galinha dos ovos de ouro, riqueza maior do gigante adormecido, caiu do poleiro, deu dois suspiros e depois... morreu!


Prédica anotada por

Frei Cancão de Fogo


terça-feira, 20 de junho de 2017

PAGODE RUSSO


DANÇANDO EM MOSCOU


Ontem à noite o irreverente filósofo Mané Mago de Jurema publicou suas impressões sobre a inesperada viagem do Presidente Michel Temer para a “República Federativa Soviética da Rússia”, aproveitando como pano de fundo a música “Pagode Russo”, clássico do repertório junino da dupla Luiz Gonzaga e João Silva:

Ontem eu sonhei, com o Temer em Moscow
Dançando pagode russo na boate KOSSACOW.
Parecia um pesadelo, naquele sai e não sai,
Parecia um pesadelo, naquele cai e não cai!
Prendam o Michel, que o Aécio dança agora
Na dança do cossaco não fica ladrão de fora.




O poeta Crispiniano Neto, atento às brincadeiras do arteiro Mané Mago e profundo conhecedor da literatura russa e da situação política que o país atravessa, brindou-nos com esse comentário:

“A pronúncia original é MOSKU, como no Francês. Portanto, rima com KOSSAKU, que em Português é COSSACO, isto é TRABALHADOR. Quer dizer: BOATE DO TRABALHADOR. Voltando ao duplo sentido, no qual Luiz Gonzaga foi um mestre, sem o uso da apelação pornofônica, podemos dizer que se Gonzagão fizesse a pronúncia correta ficaria, para ouvidos brasileiros, uma baita CACOFONIA: "COSSA CU", que se tornaria hilária com acréscimo o "vai e não vai", "cai e não cai", "Dança do COÇA CU ...", "COÇA CU fora", etc. Mas, meu mestre Arievaldo, o mais Importante é o que você constatou: o “CAI e NÃO CAI” e o “SAI e NÃO SAI” que você muito acertadamente pôs no lugar do “Vai e não vai”, de Temer.
Neste momento estou escrevendo artigo para a minha coluna de quarta-feira, no www.defato.com, intitulado: O PRESIDENTE É UM IRRESPONSÁVEL OU UM FUGITIVO? Sinceramente, tenho minhas dúvidas sobre a volta dele. Não tem cabimento um chefe de Estado deixar o País numa crise incontrolável destas, logo depois de montar um GABINETE DE SITUAÇÃO, instalado ao lado do Gabinete Presidencial para tentar contornar a crise.
Vejam só. Acabaram de descobrir CHEQUES de propina na sua conta. Isso se chama PROVA MATERIAL, como o CHEQUE DE PC FARIAS, em pagamento da perua Elba da Fiat, que derrubou Fernando Collor. Muito me parece com o Imposto de Renda de Al Capone... ou o Canto do cisne.
Por isso acho que nosso Al Capone está “ESCAPONE...”
Insisto: TENHO MINHAS DÚVIDAS DA VOLTA DE TEMER. Ele está tão desorientado que nas redes sociais do Planalto foi anunciado que visitará a REPÚBLICA FEDERATIVA SOVIÉTICA DA RÚSSIA.

É provável que pense que vai se encontrar com Mikhail Gorbachev, por medo de ter, por motivos absolutamente diversos, o destino de Sakharov em Gorki. Talvez esteja tendo coragem de ir, porque Gulag já não é o mesmo. Mas, no duro, no duro, penso que o seu destino planejado é a Noruega. Basta checar se Marcelinha e Michelzinho estão na comitiva.”

Fica por aí mesmo, meu Kossacu... O povo brasileiro está PUTIN contigo.


MANÉ MAGO DE JUREMA



domingo, 18 de junho de 2017

CD ACORDA CORDEL


PROJETO ACORDA CORDEL 
NA SALA DE AULA

Zé Maria, Mestre Azulão, Arievaldo Vianna e Geraldo Amâncio


Em 2005 entramos em estúdio juntamente com os poetas Geraldo Amâncio, Zé Maria de Fortaleza, Judivan Macedo e Mestre Azulão para gravar as dez faixas do CD “ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA”. Contamos ainda com a participação dos instrumentistas Hildebrando do Acordeón (na faixa Porque não aprendi a ler) e Gonzaga da Viola (na faixa Ceará Selvagem, poema de Rogaciano Leite interpretado por Zé Maria de Fortaleza).

Mas o ponto alto das gravações aconteceu no stúdio Proáudio, do amigo Marcílio Mendonça, com a gravação de O batizado do gato, por José João dos Santos, o famoso MESTRE AZULÃO. Esse paraibano arretado, recentemente falecido, foi autor de mais de 300 folhetos de cordel, cordelista pioneiro na Feira de São Cristóvão-RJ, cuja obra é pesquisada e admirada em países como Portugal, França e Estados Unidos.  

Mestre Azulão colocou também a sua viola afinada na faixa "A BOTIJA ENCANTADA E O PREGUIÇOSO AFORTUNADO", de Arievaldo e Klévisson Viana, que é declamada no CD por ARIEVALDO.

Mas a grande sensação deste CD é a faixa O BATIZADO DO GATO, um cordel de Arievaldo Viana, interpretado por AZULÃO, ao som de sua magnífica viola.

EIS O REPERTÓRIO DO CD:

1 – ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA – Autor: Arievaldo Viana

2 – OS PASSOS DO LETRAMENTO – Autor: Arievaldo Viana

3 – MATEMÁTICA EM CORDEL – Autores: Zé Maria e Jocélio

4 – PORQUE NÃO APRENDI A LER – Autor: Alberto Porfírio

5 – O ABC DA VIDA – Autor: Arievaldo Viana

6 – A BANDEIRA BRASILEIRA – Autor: Dr. Antônio Ferreira

7 – CEARÁ SELVAGEM – Autor: Rogaciano Leite

8 – A GRAMÁTICA EM CORDEL – Autor: Zé Maria de Fortaleza;

9 – CONFISSÃO DE CABOCLO – Autor: Zé da Luz

10 – O BATIZADO DO GATO – Autor: Arievaldo Viana

11 - Faixa Bônus:  A BOTIJA ENCANTADA E O PREGUIÇOSO AFORTUNADO
Autores: Arievaldo e Klévisson Viana

PARA ADQUIRIR O KIT COMPLETO DO PROJETO ACORDA CORDEL (LIVRO, CAIXA DE FOLHETOS E CD) entre em contato conosco através do e-mail: acordacordel@hotmail.com


ENVIAMOS PELO CORREIO PARA QUALQUER PARTE DO BRASIL.


sexta-feira, 16 de junho de 2017

O DIABO NUMA PELEJA


Xilogravura de Mestre Dila (Caruaru-PE)

O ENIGMA MANUEL DO RIACHÃO
Por Marco Haurélio
(https://marcohaurelio.blogspot.com.br)


Quando Riachão é o próprio diabo

Manuel do Riachão ou Manoel Riachão pertence à categoria dos cantadores semilendários preservados pela memória popular, com características que variam de região para região.  Personagem ambivalente, é retratado, por vezes, como um repentista que é desafiado pelo diabo, a quem derrota, ardilosamente, recorrendo à terminologia sagrada. Noutras, Riachão é um indivíduo que vendeu a alma para o diabo, tornando-se, graças ao pacto, imbatível nos desafios sertanejos. Aparece, ainda, como o próprio diabo, e sua presença era indício de grandes catástrofes, como veremos no precioso documento recolhido e transcrito em forma de conto, intitulado Manuel do Riachão, pelo escritor mineiro Viriato Padilha:

É bastante conhecida em diversos estados brasileiros, principalmente nos do norte, a lenda do misterioso personagem a quem o povo deu o nome de Manuel do Riachão, e cujas aventuras satânicas são contadas em verso rústico desde Piauí até Sergipe.

Em alguns lugares acredita-se que Manuel do Riachão era o diabo em pessoa; em outros apresentam-no simplesmente como um indivíduo malfazejo e nefasto, que vendera a alma ao príncipe das trevas, a fim de se tornar o primeiro tocador de viola e improvisador dos batuques sertanejos.

Em toda parte, porém, Manuel do Riachão figura na tradição como bardo sem rival, afirmando-se que a sua passagem por qualquer lugar era prenúncio de calamidades súbitas e inexplicáveis. Guarda o povo lembrança de que secavam os regatos, não obstante a regularidade das chuvas, tresmalhavam-se os rebanhos, surgiam enfermidades no gado, desmereciam as lavouras, e até as pessoas sentiam-se atacadas de sofrimentos estranhos, quando Manuel do Riachão, de viola a tiracolo, atravessava qualquer paragem.

Assim, apesar da admiração que causava pelos seus altos dotes de improvisador inspirado e violeiro habilíssimo, Manuel do Riachão não podia demorar-se por muito tempo em qualquer ponto. Desde logo, a indignação popular levantava-se contra os seus singulares costumes, e nela procurava um derivativo por causa dos males que começavam a afligir a terra, sendo o pobre violeiro obrigado a enfronhar a viola, e buscar outro sítio, até que, sendo aí também perseguido, recomeçasse a sua eterna peregrinação. Assim vivia Manuel do Riachão, e os lugares que de preferência freqüentava eram as tavernas, as mesas de jogo, e principalmente os batuques, pelo prazer de derrotar no verso os mais afamados cantores.

Pois bem: vamos descrever a forma pela qual o povo do norte conta como o sombrio Manuel do Riachão desapareceu dos sambas sertanejos.



* * *


Zé Ramalho reaproveitou o tema da peleja com o diabo em seu segundo álbum pela CBS


Em uma noite de São João folgava-se ruidosamente em modesta casa do sertão cearense. No terreiro crepitava grande fogueira que iluminava toda a frente da habitação; a criançada pagodeava em derredor do fogo, assando batatas e macaxeiras ao borralho, e na sala roncava o sapateado, puxado vigorosamente por uns cabras desempenados, vaqueiros, comboieiros e roceiros, e por moças sadias, robustas e esbeltas. Todas aquelas pessoas, ali reunidas em alegre folgança, conheciam-se muito, e, ou eram parentes próximos ou afastados, ou vizinhos bastante íntimos.

Assim, notava-se em todas as fisionomias bem-estar completo, satisfação imensa, principalmente nos rapazes e raparigas, quase todos de namoro entabulado ou de casamento ajustado.
Foi em meio dessa festa, simples e boa, que se lembrou fazer um dia a sua aparição o misterioso indivíduo cujo nome encabeça estas linhas, Manuel do Riachão, o mais afamado e fantástico violeiro dos sertões do norte.

* * *

Machete - instrumento utilizado pelo anjo que derrotou Manuel do Riachão no conto de Viriato Padilha.


Esse bardo errante, sempre precedido pela antipatia popular, vira-se obrigado a abandonar o Icó, onde assombrara pela sua perícia em improvisar, mas onde também incorrera gravemente no desagrado público, por haver desrespeitado, com uma cantada obscena, uma procissão que se fazia no lugar, sacrilégio que coincidiu com o aparecimento de uma praga de lagartas que devastara completamente os roçados de milho.
A calamidade foi tomada como conseqüência do desacato religioso, e Manuel do Riachão, temendo qualquer violência contra a sua pessoa, bebeu o último gole de aguardente, nas tavernas do Icó, pôs a sua preciosa viola em bandoleira, e lá se foi, estrada fora, a procurar novos auditórios para exibição dos seus dotes de improvisador.

Gastou dias em atravessar a serra do Pereiro, porém na noite de São João já se achava na chapada do Apodi, sôfrego por cantar, visto como no caminho não havia encontrado um só parceiro com o qual se divertisse.

Passava na estrada Manuel do Riachão, quando viu a fogueira e a festa a que já nos referimos. Sem hesitação encaminhou-se para o lugar da patuscada, e, aproveitando-se de um momento de suspensão do batuque, chamou a viola ao peito, e cantou com voz forte estas duas quadras:

Senhora dona da festa,
Me ouça, faça favô;
Não trago fome, nem sede
Nem me atormenta o calô;

Só quero, senhora minha,
Dizer aos seus convidados
Que, quando o meu peito se abre,
Se esconde o mais pintado.

Todas as pessoas que se achavam na sala, e bem assim a criançada que se divertia em torno da fogueira, correram para perto de Manuel do Riachão, que, em pé, no meio do terreiro, continuava a tanger o rasgado na sua viola, sem dizer palavra, e como que à espera que alguém lhe aceitasse o atrevido desafio. Muito alto, magro e de longo cavanhaque cor de barba de milho, tinha a perna arqueada em postura mefistofélica, e um riso sardônico lhe arregaçava o canto dos lábios magros e arroxeados.

Não haveria ninguém naquela festa que aceitasse o desafio daquele sujeito? Era o que todos, com os olhos, se perguntavam uns aos outros, ansiosos por uma lição ao insolente, e ao mesmo tempo desejosos de novo divertimento.

Não esperaram muito tempo os foliões. Dentre a chusma saiu logo um crioulo de gaforinha crescida, o Xico Bordão, que, apanhando uma viola, respondeu no mesmo tom e música ao violeiro errante:

No tempo em que eu cantava
O meu peito retinia;
Dava um grito no Icó,
No Cariri se ouvia.

Senhora dona da casa,
Faça favô, mande entrá
Quem à sua porta bate,
Pedindo só pra cantá.

Uma salva estrondosa de palmas, acompanhada de gritaria dos meninos, acolheu a cantiga do Xico Bordão, e este, indo ao encontro do Riachão, que continuava sempre de perna arqueada e viola ao peito, cumprimentou-o; e, tomando-o pelo braço, introduziu-o na sala. Rapazes e moças sentaram-se nos bancos dispostos ao correr das paredes, e tendo a dona da casa chegado dois tamboretes aos contendores, estes se abancaram cerimoniosamente, e depois de chupitar cada um seu copinho de aguardente, começou o torneio poético e musical, que não durou muito, pois o Bordão declarou-se logo vencido e retirou-se da sala envergonhado.

Estimulados os brios dos assistentes pela derrota do companheiro, empurraram para o meio do aposento um outro cantador, o Xico Casa-Velha, que também tinha as suas fumaças de improvisador.

Este, porém, no fim de duas quadras esmoreceu. Dizendo o seu nome numa quadrinha, Riachão aproveitou-se dele, e respondeu que toda a casa velha era tapera. Isso foi suficiente para confundir o adversário.
Ainda um terceiro cantador veio sentar-se no fatídico tamborete: era o Totonho, filho da dona da casa, e esse também foi levado à parede com a mesma facilidade.

Então ninguém mais quis cantar com o homem magro do cavanhaque vermelho; e Manuel do Riachão, vendo que nenhum cantador vinha ocupar o tamborete vazio, levantou-se, fez uma grande mesura, e, recuando até a porta, preparava-se para dar a sua despedida em verso, como é costume, quando surgiu na sala, com um machete a tiracolo, e sem que ninguém soubesse por onde tinha entrado, um rapaz muito pálido, de longos cabelos dourados e anelados, olhos profundamente azuis, envolvido num amplo ponche-pala de cor cinzenta clara.

Esse moço adiantou-se na sala, e sentando-se no tamborete onde tinham sido vencidos o Bordão, o Casa-Velha e Totonho, cantou com voz dulcíssima a seguinte quadrinha, em desafio, fazendo-se acompanhar no machete:

Seu Manué do Riachão,
Não dê já a despedida,
Torne a afinar a viola
Que o dia vem longe ainda.

Manuel do Riachão, sentindo-se nomear, isto em lugar em que julgava ser completamente desconhecido, teve um estremeção e fixou os seus olhos fundos e vivos como brasas no desconhecido que continuava a dedilhar no machete, até então conservando a vista abaixada, como que por timidez e recato. A ligeira emoção do violeiro não foi no entanto percebida pelos foliões; e ele, procurando disfarçá-la, respondeu ao moço com esta quadra arrogante:

Bem sei que o dia vem longe,
Temos tempo pra trová,
Mas vosmecê se arrepende
Antes do galo cantá.

O moço de olhos cor do céu continuava de fronte baixa, e em sua fisionomia, que parecia anuviada por funda tristeza, nem o menor sinal de emoção denunciou, ao ouvir a resposta atrevida do Riachão.

Ao mesmo tempo que todos os circunstantes crescia o interesse pelo desafio; e um pressentimento vago como que lhes dizia que Manuel do Riachão, segundo a frase popular, se estreparia naquela topada. Assim, foi com satisfação que viram o moço do machete ferir de novo o instrumento com as suas mãos, que eram de uma brancura de cera de carnaúba, e soltar estes versos:

Um ano tão bom de inverno
Que pecados são os seu!
Seu Manué do Riachão
Seu riacho não correu ...

Manuel do Riachão tornou a fitar os seus olhos de brasa no moço do ponche-pala cinzento; o famoso violeiro como que procurava saber quem era esse que parecia querer revelar ao auditório matuto a sua misteriosa e sombria natureza. No entanto não deixou de fazer a sua entrada em tempo e responder com visível mau humor nos seguintes versos:

Se o riacho não correu
Não foi por falta de inverno,
É que as águas afundaram
Foram ferver no inferno.

Os caipiras começaram a admirar-se da feição estranha que tomava o desafio poético. Quem seriam aqueles dois singulares violeiros, tão estranhos e diferentes nos modos e nas figuras? – perguntavam eles, chegando as bocas aos ouvidos uns dos outros. Quando as últimas notas, que acompanhavam os versos do Riachão, se extinguiram, o moço triste do machete descerrou outra vez os lábios, sem no entanto levantar ainda fronte, e cantou:

Seu Manué do Riachão,
Que triste sina é a sua,
Noite que vomecê canta,
No céu não se vê a lua.

Riachão torceu-se no tamborete, incomodado por essa segunda investida à sua reputação, e apenas o moço cor de cera acabava de desferir a última sílaba do verso, ele bramiu com voz forte, na qual se percebia claramente a raiva e o despeito:

Se a lua não aparece
Na noite de meu descante,
É, moço do machetinho,
Que eu canto só no minguante.

Na verdade Manuel do Riachão era um repentista admirável, e essa resposta tão adequada causou a admiração dos sertanejos. O moço louro, porém, continuava impassível e de olhos fitos no chão. De seu amplo ponche-pala cinzento evolava-se como que uma neblina levemente dourada que o envolvia todo; e assim que lhe coube a vez de cantar, gemeu no semblante esquálido crescente perturbação; e, embora só o tivesse encarado de frente uma só vez, o moço pálido bem o percebia, e assim saiu-se com esta:

Seu Manué do Riachão,
Uma coisa está se vendo:
Sua viola enrouquece,
Sua voz 'tá 'smorecendo.

Era verdade o que dizia o moço triste, porém Manuel do Riachão tentava ainda resistir, e assim respondeu incontinenti:

Não se glorie com isso,
Cantante do ponche-pala,
Bebi demais no caminho
Sinto um pigarro na fala...

Esses versos eram prenúncio da derrota do terrível trovador. O auditório compreendeu-o, e ficou suspenso dos lábios do cantador cor de cera, que, sempre de olhos baixos, tangia no machetinho, com tanta doçura que parecia que os seus dedos vaporosos nem feriam as cordas.

Logo que Riachão se calou, o moço levantou pela segunda vez os seus olhos serenos, tornou a fitá-los em cheio no violeiro, e cantou com voz mais alta e vibrante:

Seu Manué do Riachão,
Meu amigo e camarada,
Vomecê se avexa tanto
Eu não me avexo de nada.

Manuel do Riachão, ao sentir de novo penetrar-lhe a luz clara e profundamente azul dos olhos do fantástico moço pálido, tornou a confundir-se: os seus dedos, rasparam na viola, nervosamente, sem tirar harmonia, o seu corpo todo tremeu; e, pela segunda vez, nesse desafio, não entrou logo com a réplica, ao que o moço do machete, aproveitando a descaída, tornou de novo a abrir os lábios, e cantou, tornando-se a sua voz aguda e firme:

Seu Manué do Riachão,
Depois da flô vem a espiga:
Quero que vomecê reze
O Padre-Nosso em cantiga.

Sentindo essa provocação direta aos seus sentimentos religiosos, Manuel do Riachão ergueu-se de um salto. Todo o seu corpo foi tomado de um tremor convulsivo; e torcendo os braços e as pernas, como se fossem serpentes raivosas, vibrou as cordas da viola, com tanta raiva, que as fazia rebentar, ao mesmo tempo que berrava com voz sombria:

Seu moço do ponche-pala,
Não sou padre pra rezá;
Renego os santos da igreja,
Renego a pedra do artá.

E, ao dizer isto, todas as luzes da sala se apagaram, e bem assim a fogueira que crepitava no terreiro. Todos ficaram tomados de assombro.

Pelo luar que entrava pela janela viram no entanto que o moço pálido se levantava e se erguia do chão, alguns palmos, ao mesmo tempo que cantava, com voz tão aguda que chegava a doer nos ouvidos, estes versos que foram os últimos do famoso desafio:

Senhora dona da festa,
Abra a porta, acenda a luz,
Estamos com o diabo em casa
Rezemos o Credo em cruz.

Assim que acabou de cantar, ouviu-se na sala um estrondo medonho; e, abrindo-se logo o soalho, de meio a meio, por ele enterrou-se e sumiu-se o nefasto Manuel do Riachão, ao passo que o moço triste e de mãos cor de cera mais se elevava do chão. O seu amplo ponche-pala cinzento transformara-se em asas, brancas como a neblina da manhã; e o seu machete tomara a forma de uma palma, que ele comprimiu ao seio, e, sempre subindo, voou pela janela aberta e desapareceu no espaço, sem que olhos humanos pudessem segui-lo.

* * *


Folheto de Leandro Gomes de Barros, onde o diabo é oponente de Manuel do Riachão


É assim que o povo do norte conta de que maneira Manuel do Riachão desapareceu dos sambas sertanejos.

(Padilha, Viriato. O livro dos fantasmas. Rio de Janeiro, Spiker, 1956)

Ruth Guimarães, no impressionante e erudito estudo Os filhos do medo (1950),  reproduz uma versão da lenda em que o cantador é derrotado por um moço que depois se revela um anjo. A quadra que sela a derrota do diabo (Riachão), que estoura e some, aparece com uma pequena variação:

Senhora dona de casa
Feche a porta e apague a luz,
Que temos o Diabo em casa,
Rezemos o credo em cruz.

Em Terra de sol, Gustavo Barroso cita a mesma estrofe, atribuída a Manoel da Bernarda que, numa peleja travada numa fazenda dos Inhamuns, Ceará, derrota o cangaceiro Rio-Preto:

Senhora dona de casa,
Abra a porta e apague a luz,
Estamos com o cão em casa,
Rezemos o credo em cruz.


Quando Riachão é oponente do diabo

A história do violeiro que, desafiado pelo diabo, derrota-o, sobreviveu na tradição oral até que Leandro Gomes de Barros desse a ela forma literária, no final do século XIX. Riachão, na versão fixada por Leandro, não é o diabo, mas seu antagonista. A ação se passa em Açu, Rio Grande do Norte, onde Riachão cantava:

Riachão estava cantando
Na cidade de Açu,
Quando apareceu um negro
Da espécie de urubu,
Tinha a camisa de sola
E as calças de couro cru.

Beiços grossos e virados
Como a sola de um chinelo
Um olho muito encarnado
O outro muito amarelo,
Este chamou Riachão
Para cantar um martelo.

Riachão disse: eu não canto
Com negro desconhecido,
Porque pode ser escravo,
E anda por aqui fugido
Isso é dar cauda a nambu
E entrada a negro enxerido.

Mesmo assim, a peleja têm início, e o diabo, personificado num catador negro, em plena vigência da escravidão no Brasil, apresenta suas “credenciais”:

N - Sou professor de matérias
Que sábio não as conhece;
A lei que dito no mundo,
O próprio rei obedece
Meus feitos são conhecidos,
A fama se estende e cresce.

O que chama a atenção de Riachão:

Riachão disse consigo:
- Esse negro é um danado!
Esse saiu do Inferno,
Pelo Demônio mandado,
E para enganar-me veio
Em um negro transformado!

No trecho a seguir, temos algumas informações que podem conter traços da biografia do verdadeiro Riachão:

R - O senhor diga o seu nome,
Eu quero lhe conhecer,
Pois só assim posso dar-lhe
O valor que merecer,
Em tudo que você diz
A inda não posso crer.

N - Você, sabendo quem sou
Talvez que fique assombrado,
Superior a você
Comigo tem se espantado
Os grandes da sua Terra
Eu tenho subjugado!

R - Eu canto há dezoito anos,
Há vinte toco viola,
Sempre encontro cantador
Que só tem fama e parola
Quando canta meio dia,
Cai nos meus pés, no chão rola.

N - Eu já canto há muitos anos,
Não vou em toda função,
Arranco pontas de touro,
Quebro o furor do leão,
Nunca achei esse duro
Que para mim tenha ação.

R - Garanto que de hoje em diante,
O senhor tem que encontrar
A força superior
Que o obrigue a se calar,
Porque eu boto o cerco,
Quem vai não pode voltar!

N - Manoel, tu és criança,
Só tens mesmo é pabulagem!
Vejo que falar é fôlego,
Porém obrar é coragem
Juro que' de agora em diante
Não contarás mais vantagem!

R - Meu pai chamava-se Antônio,
Seu apelido era Rio;
De uma enxurrada que dava
Cobria todo o baixio
Secava em tempo de inverno
Enchia em tempo de estio.

N - Conheci muito seu pai,
Que vivia de pescar,
Sua mãe era tão pobre,
Que vivia de um tear
Seu padrinho tomou você
E levou-o para criar.

R - Onde mora o senhor,
Que meu avô conheceu?
Que eu nem me lembro mais
Do tempo que ele morreu
E você está parecendo
Muito mais moço que eu!

N - Eu sei do dia e da hora
Que nasceu seu bisavô,
Chamava-se Ana Mendes
A parteira que o pegou
E conheci muito o frade
E o vi quando o batizou.

R - Bote sua maca abaixo
Conte essa história direito,
Da forma que você conta
Eu não fico satisfeito
Como ver-se um objeto
Antes daquilo ser feito?

N - Seu bisavô se chamava
Apolinário Cancão
Era filho de um ferreiro
Que o chamavam Gavião
Sua bisavó Lourença
Filha de Amaro Assunção.

R - Mas que idade tem você,
Que me faz admirar?
Conheceu meu bisavô
Eu não posso acreditar,
Assim destas condições
Faz até desconfiar.

N - Seu bisavô e o avô
Foram por mim conhecidos,
Seu pai, sua mãe, você
Antes de serem nascidos
Já estavam em minha nota
Para serem protegidos.

E, aqui, temos um indício da proteção demoníaca, também associada à lenda do cantador Riachão:

N - Eu protejo você tanto,
Que o defendi de morrer
Você se lembra da onça
que um a vez quis lhe comer
Que apareceu um cachorro
E fez a onça correr?

R - Me lembro perfeitamente
Quando a onça me emboscou
Já ia marcando o salto
Quando um cachorro chegou
A onça correu com medo,
Eu não sei quem me salvou...

N - Pois foi este seu criado
Que viu a onça emboscá-lo
Eu chamei por meu cachorro
Para da onça livrá-lo
Se lembra quando você
Ouviu o canto dum galo?
E todas as dúvidas se dissipam:

R - Agora acabei de crer
Que tu és o inimigo!
Te transformaste em homem,
Para vir cantar comigo,
Mas eu acredito em Deus
Não posso correr perigo!

E o diabo aparece em outro papel, o de tentador:

N - Riachão, amas a Deus
Sendo mal recompensado!
Deus fez de Paulo um Monarca
De Pedro um simples soldado
Fez um com tanta saúde,
Outro cego e aleijado!

E sai-se bem na resposta, contudo, derrotar o inimigo:

R - Se Deus fez de Paulo um rei,
Porque Paulo merecia
Se fez de Pedro um soldado,
Era o que a Pedro cabia:
Se não fosse necessário,
O grande Deus não fazia!

N - O teu vizinho e parente
Enricou sem trabalhar;
Teu pai trabalhava tanto
E nunca pode enricar
Não se deitava uma noite
Que deixasse de rezar!

R - Meu pai morreu na pobreza,
Foi fiel ao seu Senhor!
Executou toda ordem
Que lhe deu o Criador
E foi um a das ovelhas
Que deu mais gosto ao pastor!

N - Arre lá! Lhe disse o Negro.
Você é caso sem jeito!
Eu com tanta paciência,
Estou lhe ensinando direito
Você vê que está errado,
Faz que não vê o defeito!

R - É muito feliz o homem
Que com tudo se consola!
posso morrer na pobreza,
Me achar pedindo esmola
Deus me dá para passar
Ciência e esta viola!

Nas três estrofes que se seguem,  há elementos que enriquecem qualquer análise etnográfica: a invocação da Virgem Maria, como advogada de defesa,  é tema de autos populares e de obras literárias irrigadas pelas águas da tradição:

O negro olhou Riachão
Com os olhos de cão danado,
Riachão gritou: - Jesus,
Homem Deus Sacramentado!
Valha-me a Virgem Maria,
A Mãe do Verbo Encarnado!

O negro, soltando um grito,
Dali desapareceu.
De uma catinga de enxofre
A casa toda se encheu,
Os cães uivaram na rua,
O chão da casa tremeu.

Riachão ficou cismado
Com cantor desconhecido,
Que, quando encontrava um,
Tomava logo sentido
O seu primeiro repente
Era a Deus oferecido.

A fonte do grande poeta paraibano foi mesmo a tradição oral, conforme atestado na última estrofe:

Essa história que escrevi
Não foi por mim inventada:
Um velho daquela época
Tem ainda decorada.
Minha aqui só são as rimas
Exceto elas, mais nada!

Um enigma

Câmara Cascudo, em Vaqueiros e cantadores, reproduz algumas estrofes do desafio de Manuel do Riachão com Maria Tebana, no qual predominam as perguntas sibilinas que, depois, entrariam na  literatura de cordel, como um subgênero muito explorado:

Pois  agora me responda,
Nego Manuel Riachão,
Que é que não tem mão nem pé,
Não tem pena nem canhão,
Não tem figo, não tem bofe,
Nem vida nem coração,
Mas, eu querendo, ele avoa,
Trinta palmo alto do chão?

A resposta – “um papagaio de papel/ Enfiado num cordão...” – mostra a destreza de Riachão, contudo, o que mais importa, para  nós, é a informação contida no segundo verso da oitava de Tebana , que qualifica seu adversário como “nego” (negro). A informação  mais complica que esclarece a nossa tentativa de conhecer o personagem do lendário cantador. Se na peleja com o diabo, recriada por Leandro, ele escarnece do oponente por este ser negro (e, possivelmente, um escravo foragido), no desafio com Tebana, ele é qualificado como tal, embora o recurso não sirva à degradação do oponente. Sobre Maria Tebana, as informações são escassas, mas é possível que tenha nascido No Rio Grande do Norte, no século XIX (ou entre os séculos XVIII e XIX).

No Dicionário biobibliográfico de repentistas e poetas de bancada, Átila Almeida e José Alves Sobrinho dão como berço de Riachão Araruna, na Paraíba, e o situam no final do século XIX e início do século XX.  Mas, se Leandro Gomes de Barros, no folheto famoso, cita como fonte da peleja lendária um velho do passado (“daquela época”), como pode Riachão ser seu contemporâneo? Até porque Silvio Romero, secundado por Ruth Guimarães, afirma ter sido Riachão um cantador das margens do São Francisco que, sabemos, não banha ainda a Paraíba. Romero colheu inclusive, no Rio Grande do Sul, duas quadras atribuídas a Riachão e Tebana que Câmara Cascudo atesta serem “dos fins do século XVIII e  princípio do XIX”.


O enigma, como se vê, permanece.